quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sentindo saudades...

Sentindo saudades...



Saudade não se teoriza, se sente. É presença da ausência. Mas há saudade e saudade. Saudade cruel e saudade doce, boa. A saudade cruel é aquela do que está longe.
Do que vislumbramos, conhecemos até, mas não temos dentro de nós.
Essa dói, machuca, tira o sono, maltrata, rouba o riso, modifica o olhar, entristece.
Mas não é saudade, de fato, é falta. Falta do que, ou de quem não se têm. Falta é verbo que tem cheiro de vazio, é lacuna; saudade é substantivo que se transforma em advérbio de intensidade, intensidade do sentir. É sensação, é plenitude, é lembrança. E somos afortunados. Não há em outra língua verbete para traduzir esse sentimento.
Saudade boa, saudade, saudade, essa é doce. Dói? Dói sim, mas não é cruel,
é uma dorzinha boa de sentir, leve, que enche o peito, faz sonhar, sorrir, eleva o olhar para o passado, gera suspiros e é,como afirmei, presença da ausência. É presença do que, ou de quem, tivemos e teremos sempre dentro de nós.
Saudade é identificação da ausência. E nada torna mais presente o que está ausente do que sentir saudades. Saudade é vida. Só morremos quando esquecidos, quando não somos mais ausentes em ninguém e isso quer dizer que não existimos mais em nenhuma memória. Saudade boa é consciência de algo ou alguém. Não sentimos nunca saudades do que não nos emocionou, provocou sorrisos, prazer, amor, êxtase, sentimentos verdadeiramente bons. E as músicas, os poemas, os textos, as canções, não servem para outra coisa senão para traduzir o que não conseguimos definir; para falar por nós, ratificar o que sentimos. Então, se por acaso lhe vem à mente uma música antiga ou atual, brega ou moderna, ou se uma paisagem ou um céu estrelado ou uma imagem do passado ou de alguém, lhe surgir na mente; ou se um trecho de um poema, de um texto qualquer, lhe provocar um suspiro, e de repente você sentir saudades. Não se espante, nem se entristeça. Aproveite. Agora se alguém disser que sente saudades de você, comemore duplamente. Triste é não ter do que ou de quem sentir saudades. E mais triste ainda é não deixar saudades em ninguém

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