“Quem sou eu?? Quando não temos nada de prático nos atazanando a vida, a preocupação passa a ser existencial. Pouco importa de onde viemos e para onde vamos, mas quem somos é crucial descobrir.
A gente é o que a gente gosta. A gente é nossa comida preferida, os filmes que a gente curte, os amigos que escolhemos, as roupas que a gente veste, a estação do ano preferida, nosso esporte, as cidades que nos encantam. Você não está fazendo nada agora? Eu idem. Vamos listar quem a gente é: você daí e eu daqui. ”
… E eu resolvi fazer a minha listinha, apesar de ter uma pá de coisas pra fazer. Muito bem: quem sou eu?
Eu sou o friozinho na barriga na descida da montanha-russa, sou a emoção do perigo, desde que eu possa cobrir o risco. Sou carinho na ponta da orelha, como o meu irmão sempre faz quando me vê. Sou sorriso tímido em algumas horas e gargalhada escancarada em outras. Sou o tesão de uma missão cumprida, com gostinho de quero-mais-ainda. Sou dívida paga. Sou uma piadinha boba bem contada. Sou adorar o meu trabalho. Sou falar com Deus bem baixinho à noite, e ir à igreja quando dá vontade. Sou uma música dançada coladinho. Sou um sorriso aberto de quem estava com saudades de me ver. Sou um pedido de segredo, com aquele olhar de confiança. Sou muitas amizades e amigos.
Sou uma mesa bem posta cheias de coisas boas pra comer sem culpa. Sou salada de tomate, strogonoff de frango, bacalhau à espanhola, arroz soltinho, ovo com gema bem cozida, suco de laranja, vitamina de abacate, vinho bem doce, pizza de mussarela e danoninho. Sou carne nem mal, nem bem passada. E na sobremesa, eu sou um bolo de morango cheio de chantily e um sorvete de iogurte com amora. Sou doce de banana e muito, mas muito chocolate, de todo jeito. E sou ficar na cozinha preparando tudo isso e muito mais.
Sou a minha casa mais do que a rua, com todas as plantinhas no jardim e na beirada da janela, os móveis confortáveis e a cozinha enorme. Sou olhar o céu da varanda com noite de lua cheia e estrelas brilhando, em tempo ameno, ouvindo música. Sou o meu quarto, cheio de quadrinhos na parede e bonequinhos na estante, que é cheia de livros. Sou a minha cama e dormir agarrada com o travesseiro. Sou a mesa e a cadeira do computador. Sou banho gelado em dia quente. Sou cremes, perfumes, batom marrom, gloss, presilhas, caixinhas encapadas e aspirina. Sou sapato alto, meia fina, lingerie de renda, calça jeans e blusas coloridas. Sou muita maquiagem, coque no dia-a-dia e cabelo solto e arrumado aos fins de semana. Sou milhares de relicários, as gavetas cheias de fotos, cartas, lembranças das quais eu não consigo me desfazer. Sou lápis de cor, tinta, fios, argila, bordado, crochê.
Sou uma idéia de organização que nunca se concretiza. Sou um NÃO gigante a grande parte das regras e um boom criativo e intuitivo na maior parte das vezes. Sou uma vida lotada de amigos, um sorriso simpático, compreensão acima de tudo, um abraço inesperado. Sou dizer e ouvir palavras que emocionam.
Sou um punhado de cartas, cartões e emails de amor, todos longos e intensos. Sou um amor mal resolvido, e mais outro. Sou a recusa de ficar ao lado de alguém só por ficar. Sou a opção de um romantismo exagerado e sem vergonha de ser assim. Sou uma folha em branco pra desenhar e escrever o que tiver vontade. Sou uma declaração de amor rasgada. Sou segurar as lágrimas nos olhos. Sou calar pra não magoar, sou de deixar a poeira ficar bem baixinha pra depois conversar. Sou escrever quando o assunto é difícil. Sou gentilezas, carinhos e mimos. Sou dormir abraçada, um olhar arrebatador, uma palavra sussurrada no ouvido, um telefonema quente, uma brincadeira excitante, uma loucura, um beijo roubado. Sou muito, muito beijo, muito toque, muito abraço apertado, muito desejo, muita fantasia, me entregar totalmente se me sentir segura e amada. Sou encostar a cabeça no peito pra ouvir o coração batendo, dengo até não poder mais. Sou insistir até o fim em uma paixão, até onde aguentar.
Sou a saudade de uma conversa no fim de tarde. A saudade do colo da minha mãe, a saudade da risada do meu pai. Sou ficar tentando lembrar do que eu sonhei toda manhã. Sou a saudade dos meus amigos da adolescência, das escolas onde estudei e dos professores que tive. Sou a saudade de pessoas que eu amei muito e que se foram. Sou a vontade de voltar a ser uma menina quando canso de ser adulta, e sou o orgulho de ter vencido até aqui. Sou um eterno procurar o lado bom da situação, um eterno racionalizar.
Sou Chico Buarque, Cecília Meireles, Renato Russo, Regina Casé, novela das 8, desenho das Meninas Superpoderosas, Manuel Bandeira,Djvan, Harison Ford, Chaves, Carlos Drummond, Laura Esquivel, Beatles, Diana Krall, Tarsila, Quino, Monteiro Lobato, Bruce Willis, filme romântico, Boca Livre, Herbert Vianna, Fernando Bonassi, José Simão, Madonna, Rubem Alves, novo cinema nacional, Laerte, Clarice, Internet com conexão rápida e milhares de emails, Luiza Erundina, George MIchael, Fernando Pessoa, Ronaldinho, Mário Prata, Maurício de Souza, música de todos os jeitos.
Sou mais madrugada que manhã, mais Boris Casoy que Jô Soares, mais calor que frio, mais campo que praia, mais silêncio que briga, mais escrever que ler. Sou mais ponderações que definições, mais momento que depois, mais bolsa que mochila, mais flauta que piano, mais calma que desespero, mais medinho que pânico, mais calor do que frieza, mais comprimido que remédio via oral, mais chopp que cerveja, mais coca-cola que pepsi, mais cinema que teatro, mais direita que esquerda. Sou mais azul que qualquer outra cor, mais parque que shopping, mais hamburguer que cahorro-quente, mais crianças que adultos, mais interior que exterior, mais dar presente que receber, mais caminhar que correr, mais música que pintura, mais dança que ginástica, mais encontro que telefonema, mais poesia que prosa, mais trabalho que descanso, mais periferia que centro, mais sim que não. Sou mais sonho que realidade. E muito, mas muito mais emoção que razão.
Não sou de jeito nenhum ( por mais que eu tente ): suco de cajú, incenso, grosseria, esporte na TV, academia, Maluf, beterraba,, matemática, Bonde do Tigrão, Débora Secco, noite de frio, ir ao médico, lamentação, gente preguiçosa, tempero pronto.
Sou assistir um filme debaixo da coberta num dia frio. Ligar o rádio bem alto enquanto arrumo a casa. Andar de mãos dadas no friozinho calmo de outono. Sonhar no escurinho do cinema. Surpreender e ser surpreendida. Contar histórias pras crianças. Ouvir palavras doces e elogios sinceros. Comer manga lambuzando. Receber ligação no celular durante o dia. Gritar gol. Descobrir que eu estava certa. Ser desculpada quando piso na bola. Flores, flores e mais flores. Cheiro de neném. Imaginar, imaginar e imaginar. Sou Marina.
Sou a soma de tudo isso, e infinitamente mais. E sou toda coração. Toda. E além de tudo isso, sou eu mesma. E gosto demais de saber quem eu sou de verdade.
E você, quem é?
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