terça-feira, 20 de maio de 2008

MAIS DIVAGAÇÕES ESQUISITAS

Estava com saudade das listinhas. Lá vai.

Só por um dia, eu queria ser um guarda de trânsito andando de carro à paisana e multando em silêncio todos os palhaços que gostam de fechar as pessoas, dar uma de espertinhos ou colocar em risco a vida dos outros enquanto dirigem.

Só por um dia, eu queria ser capaz de voltar atrás em uma ou duas situações, só pra saber se eu realmente faria diferente do que fiz.

Só por um dia, eu queria ser o Manuel Bandeira, o Drummond ou o Shakespeare, pra escrever um soneto tão lindo e tão arrebatador que derreteria o coração do moço que eu queria definitivamente.

Só por um dia, eu queria ser uma dançarina espetacular como a Ginger Rogers, só pra dançar “Cheek to Cheek” com o Fred Astaire, e parecer flutuar no ar ao som daquela música linda.

Só por um dia, eu queria ser uma ameba, só pra viver sem pensar em nada.

Só por um dia, eu queria ser um homem, só pra saber como é dar nó em gravata, fazer xixi em pé, saber que graça tem futebol e pensar nas coisas de um jeito inimaginável pras mulheres.

Só por um dia, eu queria ser uma pena, pra voar leve sem destino por aí.

Só por um dia, eu queria ser uma atriz irresistível de Hollywood, só pra seduzir e dar uns catos com o Bruce Willis.

Só por um dia, eu queria ser matemática, só pra entender como se faz aquelas contas enormes que aos meus olhos mais parece um monte de sinais de palavrões.

Só por um dia, eu queria ser uma cartunista de talento, só pra ridicularizar algumas pessoas com classe.

Só por um dia, eu queria ser uma heroína de novela mexicana, só pra ter certeza que as minhas idas e vindas com os caras complicados e atormentados iam dar certo no final.

Só por um dia, eu queria ser um passarinho, pra voar com minhas próprias asas e beber devagarinho do néctar das flores.

Só por um dia, eu queria ser a Madonna, pra ser uma pessoa pública inteligentemente depravada como poucas conseguem ser.

Só por um dia, eu queria ser magérrima, loira, rica e poderosa, só pra saber como é ter alguns tipos de portas abertas sem fazer muito esforço.

Só por um dia, eu queria ser dona de uma sorveteria pra provar todos os sabores sem ter que pagar por isso.

Só por um dia, eu queria ser uma mosquinha racional pra estar em lugares que só uma mosca poderia estar e presenciar cenas que só uma mosca poderia presenciar passando desapercebida.

Só por um dia, eu queria ser chefe da minha chefe, só pra atazanar a vida dela e cobrar com juros e correções as chatices que ela me obriga a aturar.

Só por um dia, eu queria ser Presidente da República, pra pegar o meu avião de luxo e ir viajar pra qualquer lugar do mundo como quem pega um táxi e pede uma rua da cidade.

Só por um dia, eu queria ser alguém que pudesse fazer e dizer absolutamente tudo que quisesse, sem medo do depois.

Mas é só por um dia. Nos outros, ser eu mesma tá bom demais

Nenhum comentário: