terça-feira, 20 de maio de 2008

IRMÃO URSO

IRMÃO URSO

Ursinhos Polares

Segundo os biólogos de internet e uma ou outra lembrança dos tempos de escola, alguns animais de sangue quente, em uma determinada época do ano, passam por um peculiar processo de combate às adversidades climáticas. Sentindo as agressões do tempo, eles entram em um período de letargia, mais conhecido como hibernação. Durante algum tempo, eles ficam em estado de sono profundo. Em algumas espécies, o corpo permanece dormente e inativo por algumas semanas. A respiração quase cessa, o número de batimentos cardíacos diminui, e o metabolismo restringe-se ao mínimo necessário para garantir a sobrevivência. A temperatura do corpo cai, e não é necessário nenhum tipo de alimentação, cabendo às reservas de gordura e energia armazenadas pelo corpo nos tempos de atividade intensa garantir o funcionamento fisiológico dos órgãos.

A hibernação é necessária para esses animais para que possam suportar o frio rigoroso e a escassez de alimentos, principalmente nos pólos do planeta. Se dá de maneiras diferentes conforme a espécie, e em muitos casos, acontece em etapas. Em algumas outras regiões, animais fazem o mesmo devido ao calor excessivo e a falta de água ( aí a coisa toda passa a chamar estivação ). Hibernar acontece com ursos, marmotas, morcegos, esquilos, ouriços. Algumas experiências demonstram que, mesmo se forem mantidos em ambiente aquecido, esses animais hibernam por alguns meses, cumprindo o ciclo.

Amo o Calor.Mas eu gosto do frio. Gosto da cor, do tom, da moda, do jeito das pessoas durante o inverno. Gosto do quê de recolhimento e da vontade que dá de abraçar alguém debaixo do cobertor. Gosto de chocolate quente, de sopa ( deixa a Marina de verdade saber disso…uhauahuahua), de pijama de flanela e edredon. Acho que o frio deixa as pessoas mais elegantes, mais lentas e mais pensativas, e os tons cinzas são mais suaves e profundos.

Mas esse inverno ( que aqui em Sampa, praticamente já começou ), tem algo de diferente. Os dias estão passando por mim tão rapidamente, e eu sinto que nada posso fazer sobre eles. O tempo todo me dá uma vontade enorme de dormir, de ficar quieta, de ficar só, de parar de pensar, de ter um descanso longo, de fazer o mundo esperar por mim até eu me sentir pronta pra acordar sem ficar com essa sensação de estar sendo levada, carregada.

Talvez seja apenas cansaço pelas muitas e muitas voltas que a vida deu nos últimos anos. Posso afirmar seguramente que, fora aquelas coisas absolutamente essenciais, sou outra pessoa. Outra pessoa, que viveu intensamente coisas que jamais imaginaria viver. De repente, a vida fez um sentido enorme, tão grande, e eu precisei agarrar aquilo tudo com todas as unhas, com toda a força e vontade. E quanta coisa eu fiz em tão pouco tempo… Quanta gente, quantas experiências, quanta mudança. E, de repente de novo, tanta conquista começa a me cansar. Talvez pra causar aquele desconforto mais que necessário pra buscar novas coisas. Mas mesmo assim, por hora, fica só essa sensação de que preciso dormir envolta na manta desses sonhos todos - os realizados, os que deixaram de fazer sentido e os que ainda faltam acontecer.

Talvez tanta vontade de apagar seja um pressentimento ruim de que um inverno rigoroso e agressor esteja pra acontecer. E se for isso, quem me dera passar por ele dormindo, sem que nada pudesse me incomodar, sem que nada pudesse me atingir, sem que eu pudesse sentir as variações climáticas. Não, não se trata de pessimismo, ou medo, ou vontade de desistir. É apenas um desejo de trégua, um espaço pra dormir em paz enquanto o frio não vai embora, como se isso fizesse parte da minha própria natureza.

Acho que há algo hibernando em mim, ainda que eu esteja andando por aí, trabalhando, dirigindo, conversando, indo ao cinema, ouvindo música, escrevendo. Sinto como se faltasse um pedaço, me sinto distante das pessoas, e sem vontade de me aproximar. Sinto meus projetos parados, minha vida amarrada em tantos pontos sem que eu consiga desatar os nós, e pra falar a verdade, nem me dá vontade de fazer isso. Tudo que eu queria era ficar assim, quieta. Pelo menos por um tempo. Não sei se o mundo esperaria por mim. Se as pessoas continuariam as mesmas depois que eu voltasse. Se os rumos seriam outros, ou se tudo permaneceria igual. São tantas perguntas, e me dá um cansaço maior ainda pensar em todas elas.

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