quarta-feira, 7 de maio de 2008

Ela caminhava.

Ela caminhava. Nem apressada nem. Calma. Sem destino, sem horário, sem nada na cabeça. Aliás, minto. Pensava. Pensava sobre o que poderia estar pensando. E pensava no fato de não ter o que pensar. De não ter pra onde ir. De não ter que ter pressa. De não. Sempre não. Se perguntava porque andava daquele jeito. E mudava o jeito de andar só para provar pra si mesma que tinha esse poder. Mas o jeito de andar, por mais que ela tivesse esse poder, de nada adiantava. Porque afinal, não se tinha destino. E ela podia andar. Devagar, rapidamente, correndo trotando rastejando engatinhando que nada mudaria. Porque não havia destino. Nem hora pra chegar. E pensava e pensava e pensava. E se perguntava pra onde ir? e não se respondia, porque não havia lugar pra onde ir. Não havia lugar que a suportasse, que a coubesse, que a entendesse, você me entende? Não, claro que não, você não me entende. Aliás, nem ela se entende.

Procurou uma amiga. Ou alguém que pudesse assim ser chamada. Esperava poder falar. Falar que ela não tinha pra onde ir, que ela não pertencia a lugar algum, que lugar algum pertencia a ela. Encontrou a amiga. E aí se puseram a falar. Muitos assuntos. Ela queria dizer que domingo era aquele dia chato, onde ela começava a pensar na vida, se culpando pelo passado, preocupada com o futuro, nunca vivendo o presente, mas o que é o presente afinal meu deus? Que ela acordou naquele domingo, não tinha ninguém em casa, ela não tinha nada pra fazer, nada nada, e aquilo foi corroendo, corroendo. Como disse, muitos assuntos. Mas nada do que ela quisesse dizer. Na verdade ela precisava dizer que estava ali porque queria dizer mas não sabia o que dizer. Mas como dizer? Não tinha como. E então, enquanto soltava frases como vamos sair hoje à noite? ou sim, hahaha, eu vi, mentalmente ela se sentia só. Era um supermercado, que as olhava dizia que eram felizes em qualquer lugar. Porque estavam felizes em um supermercado. Mas ela se via, via aos outros, e pensava. Pensava como ela não pertencia, não cabia, não encaixava ali. Como. Como? Assim. Ela simplesmente não achava seu lugar. Nunca achara, mas só agora se dera conta disso. E pensava. E se sentia cada vez mais só, e cada vez mais sem lugar, como se a alegria estendesse a mão pra não me alcançar igualzinho àquela música dos Los Hermanos, pensava ela. Como se o destino andasse um quilômetro enquanto ela dava um passo. Era isso. O destino era sempre distante, desconhecido, sempre sempre sempre. Nunca sabido, nunca nunca. E ela foi embora. Quem a via caminhando - agora o caminho de volta - não a achava assim. Digo assim porque eu mesmo não sei definí-la. Não sei se alegre, se triste, se deprimida, se suicida, se. Apenas assim. Incabida.

Mas sempre, sempre com aquele sorriso amarelo de está tudo bem, vamos sair, vamos viver, vamos. E ia. Apenas ia.

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