Presente ambíguo
Eu não estava distraída. E ainda não estou. Quis ter o que eu já tinha, mas que não tinha me dado conta.
E eu sei que no final das contas a culpa será toda minha. De mais ninguém, só minha. E saber, já de antemão, que terei de carregar esse fardo, dói, dói, dói... Não por ter que carregar o fardo. Mas por não poder carregá-lo sozinha. Por ter que dividí-lo. Por poder tê-lo evitado.
E apesar da aparente calma, a aparente alegria, a aparente tranqüilidade, apesar dos sorrisos amarelos... tudo aqui dentro é demais: pensamentos em demasia, emoções em excesso, todos desgovernados e ingovernáveis; mas por dentro sangra. Uma hemorragia interna, que ninguém - nem mesmo o melhor especialista - pode curar. Porque não é físico. É interior, transcedental. É só meu, meu eu-meu, comigo. É humano. E dói. E não há transfusão, não há nada que cure. O tempo talvez, mas o tempo ainda assim é pouco. E por mais que cure, deixa a cicatriz que, mais que lembrar a ferida, remete à lembranças da sua razão, da sua criação.
"A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou."
E - burra - ainda espero, e ainda fico em casa. E nada. Porque mais uma vez não estou distraída. E toda essa afobação, só pra contradizer meu capricornianismo. Estou saindo da panela pra cair no fogo. Me queimar é inevitável - só posso escolher se será ou não fatal.
"Quem procura não acha.
É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada.
Não há nada a ser esperado. Nem desesperado."
[É trágico - para não dizer cômico - ver que o caminho que se segue é errado. É mais trágico ainda enxergar isso e ainda assim, continuar a segui-lo. Porque cada escolha significa uma renúncia. Sim ou não, certo ou errado, direita ou esquerda. É ignorância, teimosia. É meu eu mais profundo, teimando em errar, teimando em pedir pra se arrepender e sofrer no futuro. Quando é que vou aprender a me obedecer?]
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