Platônica
Não costumo me arrepender do que fiz ou deixei de fazer. Minhas ações tiveram o peso e a qualidade que pude lhes dar no momento, penso. Em tempos de balanço, porém, surge pelo menos uma dúvida do tipo e se eu tivesse tentado?
Ainda me lembro dos sonhos e da exaltação que me preenchiam dias e noites enquanto o contato não era possível. E do pavor que me causavam seus gestos que, embora polidos, me pareciam sempre ameaçadores.
Um único abraço – daqueles em que se sente o pulso em cada milímetro de pele – e um esbarrar hesitante de rostos foram o que marcaram a nossa despedida.
Na última vez que o vi, tinha as mãos enfiadas nos bolsos e caminhava (ainda) solitário entre a multidão. Nessa hora, meus sapatos pregaram-se ao chão e eu não pude respirar. Nem piscar. Não podia ignorar o instante em que porventura ele passaria os olhos por mim – me reconheceria assim de relance?
A covardia nos leva a cometer esses vacilos de dois ou três segundos. Na verdade, são esses que destroem todas as minhas certezas: e se?
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