Detestei esse filme à primeira vista. Achei o trailer bobo demais. Para completar, não suporto o Jim Carrey, suas caras e bocas – só mesmo em O Máscara para ficar legal. Assim, firmei posição desde o primeiro momento: "esse filme, eu não vejo nem arrastada". Só que uma amiga viu e falou muito bem do filme. Tão bem que comecei a rever meus conceitos: "ok, se não tiver mais nada interessante no cinema, talvez eu veja esse filminho".
Aí, fui ao cinema na esperança de assistir Efeito Borboleta. Não dava mais pra pegar a sessão. Decidi ver Querido Estranho. Não estava em cartaz naquele shopping. Nem Farhenheit 11 de Setembro. O que sobrou? Adivinha…
Pois é. Fui, mas contrariada. A birra não durou nem quinze minutos.
De bobo, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças não tem nada. O Jim Carrey não chega a prejudicar. A Kate Winslet está ótima (pena que vem se rendendo aos padrões hollywoodianos de magreza). E a história dá o que pensar. Muito.
Quantas vezes você já não desejou que determinada coisa nunca tivesse acontecido? Quantas vezes não quis apagar da mente lembranças dolorosas? Rejeições, traumas, amores frustrados?
Acontece que somos a resultante dessas lembranças. Eu não seria a mesma, se não tivesse passado pelas experiências que vivi. Por piores que possam ter sido, são elas as responsáveis pelo que sou hoje. Deram-me força, experiência, maturidade, crescimento em certos aspectos.
Além disso, as coisas sempre vêm em pacotes completos. Um relacionamento, por exemplo, não é feito só de más recordações. Muito pelo contrário. Tive ótimos momentos com pessoas que, posteriormente, trouxeram-me dor e raiva. Quando a gente diz "seria melhor nem tê-lo(a) conhecido", está desejando ser privada de muitas situações agradáveis.
Não escolheria deixar de viver horas, dias, meses e anos maravilhosos porque, tempos depois, trouxeram-me dor. Para cada lembrança triste, posso encontrar pelo menos uma de felicidade. Que causa certa tristeza também, admito – aquela pontada que deriva da saudade e da nostalgia. Isso ainda é infinitamente melhor que uma folha em branco.
Não escolheria ignorar aprendizados porque o sofrimento fez parte deles. Cedo ou tarde, teria que aprender certas lições, de qualquer forma.
Por outro lado, não gostaria de repetir experiências. As lembranças têm o seu lugar no passado. Não podemos viver delas, nem pretender recapitulá-las. Hemingway dizia que "não se deve voltar aos campos de batalha". O filme, poeticamente, ignora esse conceito. Isso é até compreensível, dentro da ficção – para aqueles tiveram suas lembranças apagadas, as situações repetidas seriam, de fato, inteiramente novas.
No fim, tudo se resume a uma velha frase, dita por muitas pessoas, com diversas palavras, mas sempre trazendo o mesmo conteúdo: é melhor viver cada instante intensamente, assumindo as conseqüências boas e ruins, do que simplesmente passar pela vida.
Assista ao filme. Ele dá margem a muitas reflexões.